domingo, 2 de setembro de 2012

Paris e “pés-sujos” combinam? Claro que sim.


Na edição de ontem (1) do Caderno Ela de O Globo, sob o lead “Os melhores endereços de Paris para quem gosta de um pé-sujo”, o antropólogo e jornalista Paulo Thiago de Mello, um dos primeiros autores do guia ‘Rio Botequim’, apresenta sua lista dos melhores dentre o gênero e alguns já foram alvos de posts aqui em Rive Gauche.

Segue a matéria.

“Na capital francesa, eles estão por toda parte. Alguns são citados em guias de restaurantes e bares e são conhecidos internacionalmente. Mas, como no caso dos botequins cariocas, há os cafés de vizinhança, onde todos se conhecem nem que seja de vista. Estes são frequentados basicamente por moradores do bairro. Mas, não se enganem. Comida e bebida são assunto sério para os franceses. Eles dormem pensando no que vão almoçar no dia seguinte e almoçam já planejando o menu do jantar. São capazes de discutir horas a fio sobre qual a boulangerie onde se faz a melhor baguete da cidade. Sem falar no vinho, uma instituição nacional.

Num pé-sujo como o Penty, por exemplo, é possível comer croque monsieur ou omelete inesquecíveis. É só o que há no cardápio. Localizado em frente ao Marché d’Aligre, no 12eme arrondissement, está sempre cheio, mesmo às segundas-feiras, quando o mercado fecha. Jojo, o dono, oferece de brinde porções de azeitonas, batatas cozidas temperadas com pimenta calabresa e amendoins, cada qual num potinho, para acompanhar o chope, Leffe ou Amstel. O Le Penty é um dos vários bistrôs que circundam a praça do Marché d’Aligre, mercado construído no século XVIII.

Talvez o bar mais conhecido na região seja o Baron Rouge. Mais que um bistrô, é uma cave à vin, com sua produção própria de vinhos. A comida é mero acompanhamento, normalmente queijos e frios de excelente qualidade, com muitas variedades de salaminhos, excelentes para harmonizar com os tintos encorpados. O bar é pequeno, atraindo uma multidão que se espalha pela calçada, sobretudo no fim de semana. Os antigos habitués reclamam dos “bobôs”, uma mistura de burguês-boêmio, que invadem a região.

Principalmente na primavera, com o fim do frio, os parisienses preferem os bares que têm mesinhas nas calçadas. Na região do mercado d’Aligre, o Le Charolais tem boas opções de ostras, frios e queijos. É pedir um vinho e se sentar à calçada, acompanhando o movimento da rua. Completam o entorno da praça os bistrôs Le Grille, Le Tabak e o Café du Marché, este último um verdadeiro clube masculino, frequentado pelos residentes de origem magrebina.

Situada próxima à Place d’Italie, no 13eme, a região em torno da Rue de Butte aux Cailles se transforma em ponto de azaração, uma espécie de Baixo Gávea parisiense, gravitando em volta de uma dezena de bares e restaurantes, como Au Temps des Cerises, de administração anarquista e mesas coletivas, onde os garçons são também os donos. O clima é realmente de esquerda e os preços, módicos, com os menus mais caros em torno de € 23.

O Comptoir Général é outro bistrô marcado pela política. Localizado numa espécie de centro comunitário, onde o Partido Socialista faz algumas de suas reuniões, tem um salão de exposições e um bar em meio a peças de antiquário, perto da Place de la République.

Mas se a onda é rock’n’roll e cerveja, o La Folie en Tête é a opção. O bar abre às 17h e fecha às 2h. Motociclistas e roqueiros batem ponto diariamente, e às vezes há música ao vivo. O La Folie parece um cenário de filme, com todos aqueles personagens easy riders e beatniks. O happy hour é o melhor horário para conversar e ouvir a excelente seleção do DJ do bar. Além disso, até as 20h o chope tem 50% de desconto. Esse bar e outros na mesma rua, como o excelente Merle Moqueur, são bares para beber e azarar. O ideal, portanto, é jantar, antes, nos inúmeros restaurantes da rua.

Em meio ao centro turístico da Bastille, o Café L’Industrie continua sendo uma excelente opção para quem busca algo com mais personalidade. No almoço, funciona como um restaurante com menu fixo e, a partir do happy hour, vira um bistrô. O bar abriu duas filiais na mesma rua para dar vazão à procura. Pertence a dois sócios, que passam parte do ano viajando pelo mundo. Parte dos objetos que eles recolhem acabam decorando o bar, que tem um clima exótico. Desde peles de jacaré a trombetas tibetanas, de pinturas naïves a estátuas tailandesas e berimbau. Da cozinha, a melhor pedida é a sobrecoxa de pato ao mel com batata sauté.

Já o pequenino Le Nioumre é um pedaço do Senegal em Paris. Lá são servidos excelentes pratos, como o Yassa de frango e o Maffé de cordeiro guisado, ao molho de tomate e manteiga de amendoim. O peixe frito traz temperos que evocam pratos baianos, com bastante pimenta e dendê. Às vezes, come-se ao som de músicos griots tocando kora, a harpa africana. O Nioumre fica em Barbès, na chamada Paris Black.

Não poderia faltar uma dica em Belleville. O tradicional bairro oferece um pequeno bistrô Le Baratin, comandado pela gentilíssima Raquel Carena. Ela trabalha exclusivamente com vinhos de pequenos produtores, e seus pratos são perfeitos para combinar os variados buquês, especialmente a salada de bacalhau desfiado e os ensopados.”

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