terça-feira, 5 de março de 2013

Marseille reinventa sua imagem

Os repórteres Steven Erlanger e Maia De La Baume, do New York Times, publicaram uma excelente matéria sobre a cidade de Marseille (onde já havia um porto de importância no ano 600 AC), que reproduzo e recomendo a leitura - segue a peça:



Conhecida por crime e pobreza, francesa Marselha reinventa sua imagem
Segunda maior cidade da França espera que sua designação como a Capital da Cultura Europeia em 2013 e sua remodelação aumentam o turismo e estimulem a economia
Em um edifício de Marselha, junto ao antigo porto, imigrantes das antigas colônias francesas na África eram banhados e examinados antes de poder entrar na França. A estrutura estava abandonada havia 40 anos e quase foi demolida em 2009.

Agora, ela é utilizada para uma exposição iniciada em 1º de março e intitulada "Olhares de Provença, Reflexões Mediterrâneas", que integra parte da celebração da cidade de Marselha como a Capital Europeia da Cultura para 2013.

A conquista do título, designado pela União Europeia anualmente desde 1985, é algo como ganhar a oportunidade de sediar uma Olimpíada.

Isso dá a Marselha, a segunda maior cidade da França, a chance de se refazer, de recuperar sua maravilhosa região portuária para os cidadãos comuns e remodelar sua imagem - de uma cidade pobre, áspera, dominada pelo crime e por encruzilhadas corruptas cuja economia decaiu com o fim do colonialismo em um destino turístico atraente de sol, frutos do mar e cultura. Essa é a intenção, certamente - fazer de Marselha não apenas uma encruzilhada, mas um destino.

Com um orçamento estimado em quase US$ 135 milhões, arrecadado de fundos públicos e privados, os organizadores esperam atrair mais 2 milhões de visitantes anualmente e reerguer a economia local.

"É um choque, um terremoto cultural", disse Jacques Pfister, o chefe da Câmara de Comércio local e diretor da associação que organizou o Marselha-Provença 2013, conhecido como MP2013. "Criamos uma oferta cultural única na Europa", explicou. "Queremos unir a França, a Europa e o Mediterrâneo."

Mais concretamente, Pfister disse: "Queremos que o povo de Marselha consiga retomar seu litoral e o antigo porto", onde já não circulam carros e que passa por uma reforma multimilionária.

A cidade estabeleceu dez novos locais para atividades culturais, muitos deles com reaproveitamento de prédios antigos ou abandonados como a estação de saneamento e uma fábrica de tabaco cercada por muros enormes grafitados que expõem arte contemporânea com o tema da imigração e do exílio.

A cidade também construiu alguns novos edifícios deslumbrantes. Há um enorme museu de vidro que celebra as Civilizações da Europa e do Mediterrâneo e é financiado pelo Estado com abertura prevista para junho. E a Villa Mediterrânea, um centro internacional de diálogo e intercâmbio sobre o Mediterrâneo e seus povos. Pago pelo governo regional, ele se projeta sobre a água.

Bom uso está sendo feito de alguns dos museus já existentes em Marselha, como o La Vieille Charité, uma casa de caridade do século 17 transformada em um espaço de exposição.

Sedira, um fotógrafo e cinegrafista nascido na França de pais argelinos, disse que a cidade "tenta quebrar o clichê de Marselha como a porta de entrada para o Oriente, para a Argélia e o colonialismo".

Marselha "há muito tempo é negligenciada na França" por ser mais conhecida por seu crime do que por sua cultura, disse. "Agora a cidade tem a chance de colocar-se no mapa."

Em 2004, o Conselho Municipal de Marselha decidiu se inscrever ao título de Capital Europeia da Cultura para 2013. A cidade foi escolhida em setembro de 2008. Desde então, Marselha implementou um esforço por vezes frenético para arrecadar verba e se preparar para seu ano.

O resultado é visível e envolve dezenas de locais na cidade e suas redondezas.

Ao contrário da maioria das grandes cidades da França, Marselha carece de uma classe média que possa apoiar a arte e a cultura. "Aqui, aqueles que conseguem partem", disse Dominique Bluzet, diretor de teatro em Marselha, ao jornal Le Monde. "E por quê? Porque não há orgulho desta cidade. Esta cidade não sabe como criar reflexos burgueses e transmiti-los."

A região espera uma onda de orgulho cívico que seja duradoura, bem como uma economia mais forte e um aumento no turismo semelhante ao que aconteceu em Avignon, em 2000, e em Lille, em 2004, quando as cidades foram designadas Capitais Europeias da Cultura.

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