segunda-feira, 11 de março de 2013

Merci, Ary - um dia a gente se vê


Conheci Ary Alonso Junior no Gávea Golf em meados de 1980 quando comecei a praticar mal (como ainda o faço) esse esporte: tinha 15 anos e ele, 24 e, apesar da diferença de 9 anos de idade que, naquela época se fazia notar, ele curiosamente me dava conversa, fosse jogando no campo, nos bares ou mesmo na piscina.

O Ary era um cara inquieto, inteligente e fez muitas coisas como publicitário na Norton Publicidade onde seu pai era irmão e sócio de Geraldo Alonso nessa que foi, por 59 anos uma das principais agências do país e empresário, quando teve uma das melhores lojas de brinquedos do Rio, a Brinquedos Modernos e depois uma sapataria em Ipanema, quase em frente ao Boni’s (nossa!), ao lado que foi uma agência Banco Nacional, depois Unibanco e hoje, Itaú, creio.

Nos afastamos, não frequentava mais o Gávea e depois fui morar em Brasília e São Paulo, mas ao voltar para o Rio, em agosto de 2008, retomamos o contato até que, em janeiro de 2010, me mudei de país mas, felizmente, por conta de e-mails, MSN, Skype, VoIP, Facebook e outras ferramentas que não nos deixam ficar longe de quem gostamos, seguimos nos acompanhando e acabei convidando ele para publicar seus textos em dois sites que trabalhava, “Investimentos e Notícias” e “Cinema”.

Nessa altura ele já tinha mudado sua orientação de vida, havia estudado a Cabala e começou a formar uma vertente de pensamento que o levou a desenvolver um método ímpar de capacitação de pessoas, um verdadeiro "Coaching de Consciência".

Seus textos eram diretos, às vezes duros até, mas sempre estimulava um desafio para o leitor, uma questão sem resposta, uma meta a ser alcançada, um segredo a ser revelado e sempre passavam a certeza de que ele sabia do estava falando, que dominava muito bem o assunto a ponto de sempre terminar os seus textos da mesma forma: "cuide da causa e controle o efeito".

Há algum tempo atrás ele me ligou contando uma novidade maravilhosa: havia conseguido a cidadania espanhola (passara então a assinar Ary Alonso Millan) e queria se mudar para Paris e aqui formar uma segunda unidade de seus cursos e consultas. A seu pedido fui visitar apartamentos no Marais mas ele acabou por alugar, em outubro, um apartamento no Quartier Montorgueil, uma área destinada só para pedestres e que tem cheias de cafés, boulangeries, lojas, queijarias, mercearias e, obviamente, muita gente descolada.

Na última vez que falamos, em 12 de fevereiro passado, ele queria dicas sobre como declarar renda, expliquei que meu estatuto (sou brasileiro, com visto de residência temporária) seria diferente do dele e, ao final da conversa ele me disse que iria ao Brasil ao final do mês (fevereiro) para visitar sua família, mas seria rápido porque ele estava adorando paris e que já estava cheio de alunos.

E assim foi para o Brasil mas, pouco depois de ter chegado, ele faleceu de um mal súbito, aos 56 anos.

Soube apenas na noite do dia 9 porque estive fora e logo me veio à cabeça uma de suas frases: “não existe coincidência”. E lembrei em seguida de um trecho do último telefonema onde le dizia que sua viagem seria breve.

O Ary irá, para quem o conheceu ou para quem o lia, fazer muita falta e, mais abaixo deixo um texto dele publicado originalmente em 26/03/2012 no site da colunista e jornalista Lu Lacerda, onde havia sido colaborador e digo: obrigado por tudo, Ary!

“Morte sem explicação

Que falta nos faz uma explicação!

Queremos explicar tudo, por que? Porque gera um conforto para nossa consciência do corpo, a imediatista, a de sobrevivência. Enquanto estamos buscando explicações vivemos no passado, que não existe a não ser na memória. Isso é apenas um desperdício de vida.

Precisamos aprender com a natureza que suas leis são perfeitas e atendem sempre ao melhor. Na verdade, devemos aceitar que o mundo é perfeito e que não existe acaso ou aleatório. Os cabalistas ensinam que tudo que acontece e tudo que existe no mundo têm um propósito e este é nos mostrar o caminho do que podemos fazer para alcançar o melhor.

Se uma pessoa morre sem uma causa passível de um raciocínio explicativo, isso não significa que não existe um motivo, no mínimo, o de deixar sem explicação quem ficou por aí. Estamos acostumados a obter razões científicas ou espirituais para tudo, como se o mundo ou a natureza fossem governados por essas duas linhas de pensamento.

Religiões e doutrinas foram criadas apenas para suprir necessidades, de um lado políticas, para os governantes, e de outro, resignação para os governados. Quando olhamos a vida pela verdade da natureza e de suas leis, podemos entender a morte ou o fim de qualquer coisa, apenas como uma etapa de um processo com consciência limitada.

A inteligência da vida está associada ao melhor e não a uma explicação idiota sobre o que passou. Passado é só o efeito da manifestação que alguém criou. Que tal achar uma explicação para a questão de não estarmos buscando o melhor hoje, aqui e agora, num relacionamento raso e barato ou nas duvidas que nos impomos para prosperar? Explique a covardia de hoje para você mesmo e mude imediatamente, é o único caminho.

Cuide da causa e controle o efeito.”

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