sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Saint-Paul-de-Vence e Mougins: duas pérolas da Riviera Francesa

A cidadela medieval de St-Paul-de-Vence se impõe no alto de uma colina. Foto: Bruno Agostini / O Globo
O repórter Bruno Agostini, de O Globo, publicou nesta última quarta, (18), uma excelente reportagem sobre as cidades de Saint-Paul-de-Vence e Mougins, na Riviera Francesa e que reproduzo e recomendo a leitura, segue a peça:

O charme medieval de Saint-Paul-de-Vence e Mougins, na França

Cidades nas colinas da Riviera Francesa, perto de Cannes e Nice, atraem artistas e chefs de cozinha

CANNES - Na entrada da cidadela de Saint-Paul-de-Vence, dominando o alto de uma colina, uma esplanada de terra batida parece ser o epicentro da vida social do lugar. O nome oficial? Place du Jeu de Boules. Em frente ao Café de la Place, é uma espécie de arena esportiva, com meio-fio funcionando como arquibancada, cenário de disputadas partidas simultâneas de pétanque, primo da bocha, uma paixão nacional do sul da França.

Sob a sombra de plátanos, os moradores lançam as bolas metálicas, e a plateia não tão atenta assim mistura locais e forasteiros. Não que este seja um esporte emocionante, mas se sentar nas mesas da varanda do bar observando o movimento dos jogadores é uma boa maneira de começar a se aclimatar ao lugar. Porque, apesar do tamanho acanhado, St-Paul-de-Vence merece ser visitada com a calma de quem vê um jogo de bocha.

Explorar tranquilamente este vilarejo medieval bem preservado, encarapitado no alto de uma colina, é praticamente impossível no verão, porque mal dá para caminhar pelas ruas. E quando as multidões diminuem, pouca gente aproveita para fazer isso. Muitos ônibus de excursão parados do lado de fora dos muros da fortaleza indicam que grande parte dos visitantes passa apenas algumas horas ali, muitas vezes aproveitando uma escala de navio de cruzeiro, entre os tantos que circulam na região(este é um bate e volta clássico dos cruzeiristas do Mar Mediterrâneo).

Realmente, para percorrer as três ruas principais, paralelas, e as outras vias de St-Paul, seus becos e ruelas perpendiculares, não é preciso muito tempo. Para cruzar a Rue Grande em toda a sua extensão, com cerca de 300 metros, não se leva mais do que cinco ou seis minutos, mesmo parando em uma ou outra vitrine.

Mas St-Paul-de-Vence é um cartão-postal todo encravado de saborosos e belos segredinhos, com galerias de arte, cafés, restaurantes, lojas. Entrando e saindo de seus becos medievais podemos encontrar maravilhas praticamente escondidas, como La Petite Cave de Saint-Paul, um desses lugares que deixam apreciadores de vinho em polvorosa. O lugar é a realização do sonho do sommelier Frédéric Theys, que trabalhou em hotéis de Paris, como George V e Ritz, antes de se mudar de mala e adega para a cidadela. Em um espaço tão acanhado quanto aconchegante ele guarda muitos dos vinhos mais caros e raros da França, numa seleção de encher os olhos dos colecionadores, com preços que podem chegar a mais de € 4 mil. Mas também há garrafas que custam € 4 ou € 5.

— Recebo sempre brasileiros aqui, que são bons compradores — conta o sommelier, que tem uma ótima seleção de vinhos da região, incluindo muitos rótulos orgânicos e biodinâmicos.

Caminhando pelas ruas de St-Paul-de-Vence é impossível não reparar na graça das placas com os nomes das vias em pedras irregulares. Chegando ao final da Rue Grande encontramos uma fonte para matar a sede com água fresca, e um mirante sobre o cemitério, com linda vista para o Mediterrâneo, com o tapete verde das montanhas interrompido apenas por poucas construções.

O cenário gracioso associado ao imenso fluxo de turistas faz de St-Paul-de-Vence um reduto de artistas plásticos. Difícil imaginar algum lugar com concentração maior de galerias de arte. Vemos uma ao lado da outra, uma em frente à outra, algumas na Rue Grande, outras escondidinhas. Há de tudo: desde paisagens locais, vendidas como suvenires, a manifestações artísticas de vanguarda. Garimpando é possível encontrar algo interessante, incluindo peças de design e objetos de decoração. Além de galerias de arte, há lojas de produtos regionais, como a Première Pression Provence, de azeites, ou a Beatitude, de brinquedos artesanais, uma graça de lugar.

Para uma refeição intramuros, o restaurante Le Saint-Paul, no hotel de mesmo nome, que faz parte da associação Relais & Châteax, está entre os mais recomendáveis, com um serviço impecável. Além de a cozinha ser considerada a melhor da cidadela, as mesas ficam dispostas em um agradável terraço — nas noites mais frias, é possível se refugiar no salão com piso e paredes de pedra. No cardápio de sotaque italiano, há muitos peixes, sempre frescos, e também massas artesanais.

Porém, a refeição mais concorrida de St-Paul-de-Vence acontece no restaurante La Colombe d’Or, onde mesmo fora da alta temporada é difícil conseguir uma mesa sem reserva.

A comida é elogiada, mas a realidade é que grande parte dos clientes vai pela mística do local, e para ver as obras de arte de tantos pintores que passaram por lá, em especial nos anos 1950, como Joan Miró e Marc Chagall.

Mougins, um reduto de chefs e artistas

No caminho entre Cannes, ponto de partida deste roteiro, e Grasse, a terra dos perfumes, Mougins é uma cidadezinha charmosa que tem um curioso fluxo de visitantes: muitos chegam pela manhã e partem no final da tarde. Isso porque vão para almoçar, e aproveitam para passear pelas ruas tranquilas do centrinho antigo, com construções bem preservadas, um casario de paredes rosadas que, além de restaurante e bares, também abriga pelo menos dois bons museus, galerias de arte e um interessante time de lojas.

Inaugurado há pouco mais de dois anos, o Musée d’Art Classique tem peças romanas, gregas e egípcias, além de obras de artistas de várias gerações e estilos, como Picasso, Matisse, Chagall, Cézanne, Rodin, Dalí, Andy Warhol e Damien Hirst. Para apreciadores de Picasso, o Musée de la Photo André Villers apresenta várias imagens do pintor.

De noite, mais gente chega para o jantar. Ninguém sabe explicar direito porque Mougins se converteu em reduto de chefs — dizem que nos anos 1930 uma bouillabaisse teria sido a origem da tradição — mas o fato é que se vai até a cidade para comer bem.

Há restaurantes de cozinha regional, claro, e italiana, como em toda a Riviera Francesa. Mas também encontramos casas dedicadas à gastronomia de várias partes do mundo, de China, Camboja, Vietnã e Tailândia a Líbano e Marrocos.

Essa tradição culinária também deu origem a um festival gastronômico, que está chegando a sua oitava edição na semana que vem, nos dias 27, 28 e 29, tendo como convidado Gérald Passédat, dono de três estrelas Michelin no restaurante Le Petit Nice, em Marselha.

Outro reflexo da forte cultura gastronômica em Mougins são as escolas de cozinha e aulas de culinárias que acontecem ali. Restaurante mais famoso da cidade, Le Moulin de Mougins organiza cursos diversos, aos sábados pela manhã, para até dez pessoas (€ 80). Comandado pelo chef Erwan Louaisil, a casa apresenta receitas criativas, com forte acento italiano, como suflê de parmigiano com sorbet de tomate e manjericão (€ 34) e fricassé de lagosta com pimenta rosa e sauternes (€ 54).

Menos famoso, mas não menos recomendável, com uma cozinha em ascensão, o restaurante La Place de Mougins, de Denis Fétisson, que também dá aulas de culinária, vem chamando a atenção pelos pratos criativos, que exploram a riqueza dos ingredientes locais. Os menus de almoço custam € 25 (entrada e sobremesa) ou € 35 (entrada, prato principal e sobremesa) e estão entre as melhores pedidas das redondezas — que tal flores de abobrinha recheada com lagostins, azeitonas pretas e ragu de legumes? Para apetites maiores, o menu degustação do jantar (€ 130) vai além da matéria-prima regional, trazendo iguarias como caviar, trufas e carne de wagyu.

Mesmo em lugares mais simples, como La Cave de Mougins, com boa oferta de vinhos em taça, come-se bem em Mougins. Para acompanhar a bebida há pratos rápidos, servidos em pequenas porções.

Para perfumar e temperar

No número 5 do Boulevard de la Croisette, em frente aos Palais des Festivals, encontramos uma loja Chanel. Foi o endereço da marca, em Cannes, que deu origem a uma das mais famosas fragâncias do mundo, o Chanel nº 5, que por sua vez amplificou a fama de Grasse.

A cidade é hoje é conhecida como a “capital mundial do perfume”, e também como o lugar em que morreu a cantora Edith Piaf. Existem tours diários a partir de Cannes, Antibes e Nice para visitar Grasse, com ênfase no perfume, que custam em média € 50.

As ervas e flores que crescem nos arredores da cidade são especialmente aromáticas, devido às condições climáticas, ricas em óleos essenciais, e essas características desenvolveram uma rica cadeia produtiva de aromas, que também é usada na indústria de alimentos. Marcas tradicionais de perfumaria, como Galimard, Molinard and Fragonard, estão baseadas em Grasse, e organizam visitas turísticas.

Naturalmente, com tamanha riqueza de matéria-prima, a área também atrai chefs de cozinha, como Emmanuel Ruz, do restaurante Lou Fassun, a cinco quilômetros do centro de Grasse.

— É fácil cozinhar aqui. Além dos peixes frescos do Mediterrâneo, e também dos vegetais da região, tenho os melhores temperos do mundo. As ervas do Chanel nº 5 crescem abaixo do meu restaurante — gaba-se o chef.

SERVIÇO

ONDE COMER:

Em Mougins

La Place de Mougins: Place du commandant Lamy. Tel. 33-4-9390-1578. laplacedemougins.com

Em St-Paul-de-Vence

Le Saint Paul: 86 Rue Grande. Tel. 33-4-9332-6525. lesaintpaul.com

ONDE FICAR:

Em Mougins

Le Mas Candille: Diárias a partir de € 305. Blvd. Clément Rebuffel. Tel. 33-4-9228-4343. lemascandille.com

Le Moulin de Mougins: 1.028 Avenue Notre-Dame de Vie. Tel. 33-4-9375-7824. moulindemougins.com

Em St-Paul-de-Vence

La Vague de Saint Paul: Diárias a partir de € 228. Chemin des Salettes. Tel. 33-4-9211-2000. vaguesaintpaul.com

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