quinta-feira, 6 de março de 2014

Dries Van Noten, de estilista a cenógrafo numa só tecla

 Van Noten cria espaços que refletem seu ecletismo (Foto: divulgação)

Isabel Junqueira publicou a matéria abaixo na edição 343 da Casa Vogue sobre Dries Van Noten, que reproduzo e recomendo a leitura, segue a peça:

"O estilista na pele de cenógrafo
Van Noten cria espaços que refletem seu ecletismo

Quem entra no número 7 do Quai Malaquais, um prédio com vista para o Sena e o Louvre, jura que está na casa de alguém. Dominado pela improvável complementaridade cromática das cortinas mostarda e do sofá azul-céu, o ambiente é pessoal e acolhedor demais para um estabelecimento comercial. Qual grife, incluindo as grandes maisons, se aventuraria a misturar com tanta naturalidade uma mesa estilo boulle da época de Napoleão III com uma pintura abstrata de Marc Mendelson, almofadas otomanas de veludo dos anos 1920 e um tapete da Mongólia com desenhos de dragões em uma antiga livraria? Quem conhece o universo de Dries Van Noten, famoso pelo harmonioso clash de cores, estampas e texturas de suas roupas, saberia que ali tem a mão do estilista belga, que se destacou no meio dos anos 1980 com Os Seis da Antuérpia, grupo que fez o mundo todo desejar a moda exportada da Bélgica.

Cenógrafo da própria mostra no Musée des Arts Décoratifs (até 31 de agosto), em Paris, Van Noten explica a concepção da loja: “Decorei como se fosse a minha casa. Para mim, é muito importante que as roupas estejam dentro do seu contexto”. A afirmação não se limita às suas boutiques: desde o início da carreira, ele pensa o espaço constantemente – fazendo as vezes de decorador e cenógrafo – como uma extensão da sua visão única e nada hierárquica do mundo, que olha com até mais curiosidade para o feio do que para o bonito. “Eu gosto de me cercar de coisas capazes de me ensinar algo, que me forcem a compreendê-las”, declara.

Diretor criativo e CEO da sua marca, Van Noten não perde seu tempo (e dinheiro) com campanhas publicitárias, pré-coleções ou licenciamentos. Além dos trajes, cujos tecidos são todos criados por ele, o único investimento relevante é o desfile. Em 1993, seu début em Paris, ele convidou os editores e compradores para se sentarem em cima de colchões brancos e almofadas indianas. Na celebração do seu 50º desfile, 12 anos depois, a passarela, dentro de uma fábrica abandonada, virou um enorme banquete com direito a maravilhosos lustres de cristal, onde os “pratos principais” desfilavam em cima de uma toalha de mesa – homenagem à mãe do estilista, que sempre lhe contava sobre seu antigo enxoval de linho, o que certamente deve ter cultivado na mente do jovem Dries a fascinação por tecidos.

“Ele é um acumulador de ideias e parte sempre de extremos até encontrar o equilíbrio e a elegância justos entre eles”, explicou Pamela Golbin, curadora de Dries Van Noten – Inspirations. Ele, claro, mergulhou em diferentes universos para conceber os ambientes da exposição. Não se espante, então, ao ver suas roupas ao lado de um Francis Bacon e um Damien Hirst, ou entre um pedaço de um filme de Visconti e um tecido antigo do século 18. Como o fashion designer adora dizer: “Já tem moda demais no mundo”."


 Van Noten cria espaços que refletem seu ecletismo (Foto: Márcio Madeira )

 Van Noten cria espaços que refletem seu ecletismo (Foto: Márcio Madeira )

 Van Noten cria espaços que refletem seu ecletismo (Foto: divulgação)

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