sexta-feira, 16 de maio de 2014

Silencio, de David Lynch, reúne o melhor de Paris


Um dos ambientes do clube, inspirado no filme “Cidade dos Sonhos”: público não pode tirar fotos
Foto: Divulgação
Um dos ambientes do clube, inspirado no filme “Cidade dos Sonhos”.  Foto: divulgação

Carol Luck, que escreve na página Transcultura, publicada às sextas-feiras no Segundo Caderno, publicou hoje um artigo sobre o exclusivo clube Silencio, de David Lynch onde, por coincidência, estive no sábado retrasado (3) - segue a peça:

Uma visita ao clube Silencio, de David Lynch, em Paris
Noite teve show do grupo de rap carioca Pearls Negras, só para membros

PARIS - De longe é possível ver o movimento de pessoas querendo passar pela pequena porta do número 142 na Rue Montmartre, prédio construído pelo mesmo atelier que projetou a Torre Eiffel onde funciona desde 2011 o Silencio, clube do cultuado diretor americano David Lynch que foi inspirado na insólita boate de seu filme “Cidade dos sonhos” (2001). Porém, nem metade consegue entrar.

Não há nenhuma indicação na porta do clube, que funciona de terça a domingo, das 18h às 6h, mas onde o acesso antes de meia-noite é exclusivo para membros (cuja adesão custa em torno de básicos € 780 anuais, além de ser preciso provar suas “credenciais artísticas”). Os membros têm acesso exclusivo a shows, estreias de cinema, palestras, exposições e performances que acontecem por lá, e depois da meia-noite a entrada para o público em geral é liberada e o lugar é agitado por ótimos DJs e um bar que não para de servir drinks elaborados, sempre com um grande fluxo de clientes famosos. Mas, se você não é membro, é preciso caprichar muito no look, senão dificilmente o host/juiz de estilo vai permitir a sua entrada.

Após a difícil tarefa de atravessar a concorrida porta é preciso descer seis lances de escada onde só se ouve o barulho dos passos — silêncio! — e passar por um túnel dourado com minimandalas que parece te levar a outro mundo. Não um mundo com personagens bizarros ou pessoas falando de trás pra frente — pelo menos até que os drinks começassem a fazer efeito. Mas um mundo superchique e exclusivo, em que as pessoas esquisitas se restringiam a fashionistas com looks espalhafatosos.

O lugar é tomado por parisienses, empresários, artistas (ou pelo menos pessoas que se vestem como tal), turistas curiosos e celebridades fugindo de paparazzi. Lá as fotos são proibidas, com exceção do corredor dourado, onde flashes de celulares pipocam a noite inteira com pessoas querendo postar no Instagram que estiveram por lá.

O clube definitivamente tem alguns de seus elementos marcantes, mas parece errar quando se trata de coisas essenciais como uma pista de dança toda espelhada e um bar com luzes fluorescentes um tanto brega. A área de fumantes é a mais interessante: com árvores feitas de fibras ópticas, escura e intimista, mas onde, graças à estreita relação entre os parisienses e seus cigarros, depois de alguns minutos os olhos começam a arder, sendo impossível ficar lá por muito tempo.

Por coincidência, o show da noite em que estive lá era do trio de rap carioca Pearls Negras, que saiu das ruelas do Vidigal para o mundo. Mas infelizmente, como diz o filme, no hay banda — pelo menos para os meros mortais que, como eu, não são membros do clube e não puderam conferir a performance antes de meia-noite.

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