terça-feira, 29 de julho de 2014

Lindbergh faz Hollande perder pontos

O presidente francês Francois Hollande e seus novos óculos: escolha de grife estrangeira irritou os mais nacionalistas Foto: BERTRAND GUAY / AFP

Calma, o Lindbergh em questão não é o candidato ao Governo do Rio de Janeiro e sim, um par de óculos da marca dinamarquesa que também é usada pela rainha Elizabeth II e por Bill Gates, Miuccia Prada e Brad Pitt

Segundo a repórter Vanessa Friedman do The New York Times, a relação do presidente François Hollande com a moda tornou-se motivo de discórdia na França,a ponto de levantar opiniões extremadas.

Tudo porque, semanas atrás, Hollande trocou os óculos sem armação aparente por um modelo mais geek.

Foi o suficiente para iniciar um debate feroz. Os óculos do presidente foram chamados pelos empresários franceses de pouco patrióticos e hipócritas.

Para os críticos, a escolha da grife estrangeira seria uma prova de que Hollande não coloca em prática o que prega: ou seja, apoiar a indústria local. Ao que parece, o presidente tomou a decisão de mudar de armação no momento em que o seu governo se vê numa fase que valoriza o “Made in France”.

Especialistas no “assunto” Palácio do Eliseu têm especulado sobre o simbolismo potencial da troca de óculos. Bruno Roger-Petit, colunista da revista “Le Nouvel Observateur”, escreveu que se tratava de um aceno à primeira administração de Jacques Chirac nos anos dourados da prosperidade francesa, na década de 1970. Em outras palavras, segundo Roger-Petit, “um objeto que incorpora um passado percebido como positivo, a nostalgia de uma era de diversão proibida e conquistada”. (Isso apesar do fato de que o último líder francês a usar óculos da Lindbergh, mesmo que o estilo tenha sido diferente, foi o também socialista Lionel Jospin, primeiro-ministro de 1997 a 2002).

O que não entrou em discussão foi o preço dos óculos: US$ 1.300, de acordo com Peter Warrer, diretor de vendas e marketing da Lindberg. Parece uma quantia razoável para um presidente que vendeu a ideia de taxar os milionários em 75%. (A simples existência do “affair lunettes” sugere que talvez os conselheiros de Hollande não sejam tão sagazes ao tratar da imagem do líder quanto deveriam ser).

Não é que Hollande seja um estranho aos códigos da vestimenta, ou à importância de se usar o par de óculos correto. Nas eleições, ele concorreu com a plataforma “Senhor Normal”: o seu visual servia de contraponto ao de Nicolas Sarkozy, o “presidente bling-bling”. Para chegar a esse visual, Hollande passou por uma renovação sob tutela de sua ex-companheira Valérie Trierweiler, que o ajudou a perder peso e a optar pelos óculos Lindberg de armação quadrada (antes, Hollande tinha usado uma armação arredondada).

Isso sugere que a recente troca de armação tem mais a ver com se desprender de uma bagagem emocional após o fim do relacionamento de Hollande e Trierweiler; algo como um fator motivacional que, até agora, não havia sido explorado. Todos nós passamos por isso: camisetas ou mesmo sapatos que, infelizmente, nos recordam de amores passados. De fato, Warrer parece pensar que este pode ser o caso, já que a mudança dos óculos de Hollande parece ter relação com a vontade do presidente de “querer renovar a si mesmo”.

Mas, no final, e seja qual for a motivação e os erros envolvidos, a situação mostra que não são apenas as primeiras-damas que são vistas como um outdoor em potencial para a indústria local (lembram nos Estados Unidos quando Michelle Obama vestiu Alexander McQueen para um jantar de estado com os chineses?). Os chefes do executivos também são.

O fato é que, ao contrário da suposta observação de Freud de que às vezes um charuto é apenas um charuto, na política, um novo acessório nunca é só um novo acessório. É sempre um símbolo. Não importa o gênero do personagem.

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