domingo, 26 de outubro de 2014

Frank Gehry em retrospectiva no Centre Georges Pompidou

Fundação Louis Vuitton, no parque Bois de Boulogne: 'Minha ideia era construir um prédio em movimento, como uma nuvem que muda graças à luz' Foto: Iwan Baan / Divulgação
Fundação Louis Vuitton, no parque Bois de Boulogne:
'Minha ideia era construir um prédio em movimento, como uma nuvem que muda graças à luz'
O jornalista correspondente Fernando Eichenberg, de O Globo, publicou hoje uma boa matéria sobre Frank Gehry, o arquiteto que assina prédio da Fundação Louis Vuitton, inaugurado na semana passada, e que ganha sua maior retrospectiva na Europa, no Centre Georges Pompidou. Abaixo reproduzo e recomendo a leitura, segue o texto:

"É conhecida a frase pronunciada pelo arquiteto Frank Gehry quando adentrou pela primeira vez um de seus mais celebrados projetos, o Guggenheim de Bilbao, na Espanha, ao estar completamente finalizado.

— Oh, meu Deus, o que eu fui fazer para essas pessoas? — indagou o criador face a sua obra.

O assombramento do canadense naturalizado americano diante de suas construções já não é o mesmo de outrora, mas sua imaginação ainda surpreende pelo mundo. A mais recente prova é a Fundação Louis Vuitton, antigo sonho do empresário e mecenas Bernard Arnault, proprietário da célebre marca de luxo, tornado realidade pelas pranchetas do arquiteto.

Inaugurado na semana passada pelo presidente francês, François Hollande, com abertura ao público amanhã, o prédio se impõe em meio ao parque Bois de Boulogne como uma nave composta de enormes 12 velas de vidros sobrepostas, que parecem infladas pelo vento, numa superfície de 11 mil m². Definições não faltaram para designar as formas do edifício, de “meteorito” a “barco a vela”.

— Minha ideia era construir um prédio em movimento, como uma nuvem que muda sem cessar sua aparência graças à luz — disse Gehry, ao descrever sua criação também como “um iceberg posto no solo”.

Com vista de seus terraços superiores para o bairro moderno de La Défense, a Torre Eiffel e os céus de Paris, a fundação possui uma localização privilegiada, colada ao Jardim de Aclimatação. Frank Gehry vê seu projeto — uma aventura que levou 12 anos para ser concluída —, como um work in progress, um projeto em constante evolução, de acordo com as obras que nele serão exibidas.

— Eu fabriquei o violino, cabe agora a ela tocar a música — afirmou ele, referindo-se a Suzanne Pagé, diretora artística da fundação.

O local foi concebido como um nobre espaço de arte contemporânea na capital francesa, constituído de 11 galerias e um auditório em 7 mil m² acessíveis ao público, com capacidade de receber até 1,6 mil visitantes simultaneamente. A ideia é expor obras da coleção permanente de Bernard Arnault e promover mostras de artistas importantes, além de eventos variados, como leituras poéticas ou shows — apresentações do Kraftwerk e do pianista Lang Lang já estão confirmadas. Na primeira fase da abertura, poderão ser apreciados trabalhos de nomes como Gerard Richter, Christian Boltanski, Olafur Eliasson, Taryn Simon, Sarah Morris, Bertrand Lavier ou Thomas Schütte.

225 DESENHOS E 67 MAQUETES

Concomitante aos festejos de inauguração do novo espaço artístico parisiense, o Centro Pompidou organizou a maior retrospectiva europeia de Frank Gehry, com o objetivo de fazer uma leitura global de seu trabalho desde os anos 1960 até hoje. A mostra acolhe 225 desenhos e 67 maquetes e vídeos guardados nos arquivos do arquiteto, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O portfólio responsável por sua projeção internacional revela criações como a Casa Dançante, em Praga; o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles; o Centro Stata, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês); ou a Torre Beekman, em Nova York, entre tantas outras.

Para Aurélien Lemonier, um dos curadores da exposição, além da forma e da questão urbana, Gehry possui uma “capacidade extraordinária de questionar os dogmas, as convenções e as doutrinas da arquitetura”.

— Para ele, toda forma de questionamento é pensável. Essa liberdade é vertiginosa nele, e sua arquitetura é a face visível disso — resumiu.

O curador se disse impressionado em sua visita ao prédio da Fundação Louis Vuitton:

— É um prédio alucinante, onírico, um objeto incrível, que convoca o imaginário. Parece um besouro em sua carapaça, algo fechado. Essa é a percepção que se tem quando se olha do lado de fora. Mas, quando se está em seu interior, o sentimento é de um espaço completamente aberto e permeável, em que somos chamados pela cidade — definiu.

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